Recordando poetas populares, cuja a sua poesia raramente chega ao nosso conhecimento, vamos hoje publicar uns versos escritos por Eduardo Francisco, mais conhecido por Guarda - Freio, aos quais deu o nome " OS QUE TRABALHAM "
OS QUE TRABALHAM
Estou farto de ouvir
Na rádio e televisão
Propaganda ao trabalho
Que dá lucro à nação.
Dizem para trabalharmos
Com ardor, e sem canseiras
Para ficarmos igualados
Com as nações estrangeiras.
Analisei estatísticas
E nelas, vi afinal
Quais são os trabalhadores
Que temos em Portugal.
A população do país
Com mais ou menos razões
Ela está calculada
Apenas em dez milhões.
As pessoas incapazes
Velhinhos que metem dó
Existem uns três milhões
Sete milhões ... ficam só.
As crianças da escola
Não trabalham, certamente
São uns quatro milhões
Três milhões ficam somente.
Temos funcionários públicos
Calculados num milhão
Só restam dois milhões
Trabalhando para a nação.
Agentes intermediários
Oitocentos e cinquenta mil
Eles serão postos de parte
Para o trabalho civil.
Fica a restar um milhão ...
Cento e cinquenta mil, tá visto
Mas eu, continuando vou
A fazer o meu registo.
No serviço militar
Duzentos e cinquenta mil se aponta
Esta gente, já se sabe
Para o trabalho não conta.
Resta então para a labuta
Novecentos mil, apenas
Mas destas ainda há
A tirar contas pequenas.
Doentes e internados
Gente que não vale um ceitil
Vagabundos e malucos
Somam oitocentos mil.
Tirando estes, então
Nós veremos nos totais
Que restam para o trabalho
Só cem mil e nada mais.
Mandriões, polícias e padres
Eu digo muito afoito
São noventa e nove mil
Novecentos e noventa e oito.
Dos cem mil, tirando estes
teremos então, depois
A trabalhar para a nação
De todos, apenas ... dois! ...
E quem serão esses tipos
No trabalho, já se vê? ...
Um deles, serei eu
E o outro ... será você.
Mas como estou cansado
E a energia me falta
Trabalhe você sozinho
Para sustentar essa malta! ...
Versos copiados do livro de Fernando Cardoso
Poetas Populares 3º Volume, 5ª Edição
Amorim Lopes