Ontem dia 26 de Janeiro, na sequência da publicação de um texto no Facebook pela Ânimo - Colaço, fizemos o seguinte comentário " Carlos Alexandre, se a vara da Justiça tiver que vergar, que não seja para o lado das ofertas, mas sim para o lado da misericórdia."
Hoje dia 27 de Janeiro, ficamos surpreendidos com o que lemos no Correio da Manhã, um texto de opinião escrito por Rui Rangel, Juiz Desembargador, o qual nos levou à sua publicação neste Post.
Carlos Alexandre, juiz de instrução do chamado "processo dos submarinos", disse, no despacho que mandou para julgamento os arguidos, que "sabia o que arriscava por decidir nestes termos e que estava a ser alvo de ameaças graves e de escutas ilegais". Disse mais: "Nasci ignorado e quero morrer sério e honrado, pretendendo merecer o respeito dos meus concidadãos."
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É bom lembrar que Carlos Alexandre é juiz em Portugal e que estes factos se passaram em Lisboa. Não é juiz na Venezuela, Colômbia ou Birmânia. Mas juro-vos que o seu relato fez-me pensar que se tinha transferido para um desses países, com uma história, também, de submarinos. Mas não, é o nosso juiz Carlos Alexandre, em carne e osso, aquele que quer morrer sério e honrado. Não sei se a poeira em que se transformou a nossa democracia o vai deixar morrer com esta consciência cívica e moral. Bem sei que o caso dos submarinos atinge gente importante da cena empresarial, políticos e membros de um governo que já se finou.
As escutas falam por si, daí ser difícil perceber como é que nem Carlos Alexandre, homem de têmpera rude, sério e honrado, conseguiu levar a julgamento governantes corruptos, que se passeiam nas televisões a pregar grandes orações. Então as luvas ou contrapartidas pagas pelo negócio dos submarinos só beneficiaram os empresários? Carlos Alexandre tem virtudes e defeitos. Estou à vontade para escrever isto porque já confirmei e revoguei despachos seus. Por incrível que pareça foi mais importante a entrevista de Carlos Silvino, sobre o caso Casa Pia, do que o que disse Carlos Alexandre, sobre matéria que nos leva a perguntar em que sociedade vivemos.
A comunicação social foi atrás de Carlos Silvino e deixou Carlos Alexandre a falar sozinho. A inversão de valores e a falta de consciência cívica é gritante: certamente, é mais importante um arguido dar o dito pelo não dito do que um juiz ser pressionado e ameaçado de morte para não levar a julgamento gente que corrompeu o Estado Constitucional. Por causa do assunto Carlos Silvino fui convidado por todos os órgãos de comunicação social para falar: recusei. Para comentar o que disse Carlos Alexandre nem um convite. Como é possível tamanho silêncio sobre o que disse este juiz sério e honrado? O silêncio dos media e políticos dói e magoa gente de corpo inteiro e de coluna vertebral. É um silêncio de partilha de responsabilidades e cumplicidades. Se não tivesse cumprido a sua função, se não levasse a julgamento os implicados no caso dos submarinos, que, por pouco, afundavam financeiramente o País, tínhamos notícia. A ditadura prendia, matava e mandava matar.
A democracia, refém de gente sem qualidade, ameaça, aterroriza com um cálice de cicuta e mata silenciosamente. É preferível a morte, que morrer aos poucos sem dignidade e honra. Carlos Alexandre, não o super-juiz mas o homem simples e corajoso, fez a sua opção: antes morrer de pé, com seriedade e honra, que morrer aos poucos e curvado aos interesses de gente que, semeando o medo lhe quis corromper a dignidade. Alguma vez nas honrarias do Estado, na distribuição de medalhas, um juiz foi reconhecido por cumprir bem a sua função?
Por:Rui Rangel, Juiz Desembargador
Depois do que foi escrito pelo Juiz Desembargador Rui Rangel, pouco mais há para dizer. Apelamos ao bom senso, para que se abram as portas dos diversos círculos políticos e todos juntos, remando no mesmo sentido, com toda a força, energia e lucidez, venceremos a negra tempestade em que navegamos. Todos, havemos de fazer Portugal.
Amorim Lopes