Frequentemente lemos textos escritos pelo Professor Universitário Carlos Paz, com os quais, na sua quase totalidade estamos de acordo.
Nele, admiramos a forma clara e frontal com que olha a realidade do mundo que nos rodeia, a coragem que tem para denunciar as injustiças e a luta diária que trava, para ajudar a construir um mundo mais justo.
É um revoltado com a situação que todos nós estamos a viver. Tal é a revolta, que não resistiu em publicar um texto, que escreveu em homenagem à sua mãe, que faleceu recentemente, que seguidamente reproduzimos.
Carlos Paz
Hoje faleceu a minha mãe.
Faleceu doente, triste e sozinha.
Sozinha porque eu, filho único, estou em Luanda a trabalhar. O trabalho de cujo rendimento preciso para viver. O trabalho que me é negado em Portugal por ser alguém que não me calo.
E, mesmo desse rendimento, os senhores que nos governam me ROUBAM 90% (não é gralha, são mesmo 90%):
- 30% de IRS;
- 35% de TSU (tenho de pagar a minha e a do empregador – é assim mesmo para os recibos verdes), para uma Segurança Social da qual NADA tenho direito a usufruir;
- 20% de taxa média de IVA;
- 5% para os restantes impostos e taxas (IUC, IMI, ISPP, etc…, etc…, etc…).
Faleceu doente, triste e sozinha uma Senhora que escolheu chamar-me Carlos, porque era um nome que, etimologicamente, significava: Homem Livre.
Como todas as mães, ensinou-me muita coisa ao longo da vida. Mas, acima de tudo, ensinou-me a ser isso mesmo: um Homem Livre.
Faleceu doente, triste e sozinha, num País que se está a desagregar moralmente a olhos vistos.
Faleceu doente, triste e sozinha, num País que expulsa os que se atrevem a ser Homens Livres.
Faleceu doente, triste e sozinha. Não sei sequer se consigo chegar a tempo do funeral. Estou revoltado contra TODA a escumalha que me obrigou a estar longe, por necessidade de sobreviver.
Faleceu doente, triste e sozinha.
Em Honra dela, da Senhora que me ensinou a ser um Homem Livre, faço aqui uma promessa solene (de Homem de palavra que me Orgulho terem-me ensinado a ser):
- Não mais darei descanso a TODA esta CANALHA que a obrigou a falecer doente, triste e sozinha!
Um dia estes CANALHAS, de TODAS as cores, mais tarde ou mais cedo, deixarão de andar rodeados de seguranças, públicos (pagos por nós todos) ou privados (pagos com o que nos roubam). E nesse dia eu irei aparecer qual assombração.
E, mesmo tu, meu CANALHA de Estimação, que por inerência de funções terás segurança (da pública, paga por todos nós) para o resto da tua vida, mesmo tu, eu dizia: vais ter de olhar por cima do ombro muitas vezes. Mesmo a ti, um dia eu irei aparecer qual assombração.
Faleceu hoje a minha mãe. Faleceu doente, triste e sozinha. Estou revoltado!
Serve esta nossa publicação, para transmitir, quão solidário estamos com o triste e doloroso momento que Carlos Paz está vivendo.
Amorim Lopes