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DÁDIVAS

E agora é o acaso quem me guia. Sem esperança, sem um fim, sem uma fé, Sou tudo: mas não sou o que seria Se o mundo fosse bom — como não é!

E agora é o acaso quem me guia. Sem esperança, sem um fim, sem uma fé, Sou tudo: mas não sou o que seria Se o mundo fosse bom — como não é!

DÁDIVAS

24
Fev15

HÁ GOVERNOS QUE SENTEM O SOFRIMENTO DO SEU POVO.

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Nos últimos dias muito se tem falado da Grécia. Muitos têm afinado a sua retórica, direcionando-a numa constante condenação do governo grego. Outros há que, sentindo a dor das “chagas”, fruto da flagelação das investidas “troikanas”, vão engrossando a onda solidária que apoia a causa Helénica.

Nós estamos com os últimos!

Relativamente ao nosso Governo, não estamos em consonância com a sua tomada de posição – condenar a atitude grega. Admitimos que o possam fazer, mas podiam ser mais discretos e menos mediáticos.

Leiam o que escreveu Nicolau Santos ontem no Expresso digital:

TEXTO

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(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 23/02/2015)

 

Dr. Marques Guedes, Vexa. não fala pelo Dr. Paulo Portas. Nem por mim.

Disse o Dr. Marques Guedes na última quinta-feira, demonstrando pela enésima vez ao Dr. Wolfgang Schauble que o governo português é o melhor, o mais amigo, o mais entusiasta da estratégia alemã para tentar resolver a crise da zona euro, que “nunca a dignidade de Portugal nem dos portugueses foi beliscada, pela ‘troika’ ou qualquer das suas instituições”. Eu não sei quem passou procuração ao ministro da Presidência para perentoriamente afirmar tal. Mas o dr. Paulo Portas não foi. Eu também não. E desconfio que há bastantes mais.

O governo do Dr. Passos Coelho tem liderado a pancadaria europeia no governo grego. O governo do Dr. Passos Coelho invetiva as propostas do governo grego para resolver a sua gravíssima situação económica. O Dr. Passos diz e reafirma que a estratégia do Syriza é um conto de crianças. Outros membros do Governo e da maioria zurzem com entusiasmo no Eng. Alexis Tsipras e no Prof. Yanis Varoufakis. E quando o fazem olham para o Dr. Schauble a ver se ele está a notar como Portugal dá cabo desses mandriões dos gregos, que querem viver sem trabalhar à custa do dinheiro dos outros. Eng. Merkel, veja como a apoiamos! Dr, Schauble, olhe como alinhamos com tudo o que diz! E a quantidade de comentadores político-económicos que se encarniça contra os gregos, contra a estratégia grega, contra os falsos paralíticos e as cabeleireiras que se reformam aos 55 anos, contra o choradinho grego, contra a falta de gravatas no governo grego! É quase comovente ver tanta unidade de pensamento nacional contra a Grécia. Mais só mesmo se for num jogo de futebol importante contra os helénicos.

A responsabilidade de ser a tropa de choque do Dr. Schauble chegou até ao normalmente pacífico Dr. Marques Guedes, que veio rotular a declaração do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, segundo as quais durante o processo de ajustamento “pecámos contra a dignidade dos cidadãos na Grécia, Portugal e muitas vezes na Irlanda também” como “manifestamente bastante infeliz, porque nunca a dignidade de Portugal nem dos portugueses foi beliscada, pela ‘troika’ ou qualquer das suas instituições”. Ó quanta coragem! Ó quanto atrevimento! Imaginemos por um momento que a Alemanha subscrevia as posições de Juncker. Todos temos a certeza que o Dr. Marques Guedes diria o mesmo, não é verdade?

Pois bem, Dr. Marques Guedes, de mim não recebeu procuração para dizer o que disse. Mas eu não interesso para nada. O problema é que também não recebeu procuração do dr. Portas para dizer o que disse. E não era preciso ouvi-lo ontem a reafirmar o que disse durante o ajustamento, nem a demissão irrevogável do Verão de 2012 por causa da estratégia de ajustamento seguida muito para lá do acordado adotada pelo Dr. Vítor Gaspar.

A coragem que agora se vê em Passos Coelho, em Maria Luís Albuquerque e em Marques Guedes não se viu uma única vez quando o governo se tinha de subordinar aos ditames dos funcionários da troika.

O Dr. Portas sentiu-se humilhado na sua dignidade enquanto cidadão português quando Portugal foi obrigado a pedir ajuda internacional. Eu também. O Dr. Portas sentiu-se humilhado quando Portugal foi tratado como um protetorado pela troika. Eu também. O Dr. Portas sentiu-se humilhado por o cogoverno com o sindicato de credores ser um vexame para uma nação com 900 séculos de história. Eu também. O Dr. Portas ter-se-à sentido ou não incomodado com o facto de funcionários da troika mandarem no Governo português. Eu senti-me. E Juncker vem agora dizer exatamente isso. “Não critico os funcionários, mas não se coloca um alto funcionário perante um primeiro-ministro ou um ministro. Há que colocar frente a eles um comissário ou um ministro sob a autoridade do presidente do Eurogrupo”. O Dr. Portas criticou várias vezes a divergência e uma certa hipocrisia entre as lideranças políticas por exemplo do FMI e as equipas técnicas das entidades e instituições que, no terreno, faziam coisas diferentes. Eu também.

Em resumo, a coragem que agora se vê em Passos Coelho, em Maria Luís Albuquerque e em Marques Guedes não se viu uma única vez quando o governo se tinha de subordinar aos ditames dos funcionários da troika. Ou a recusar aplicar alguma das medidas que lhe eram impostas (a Irlanda, por exemplo, recusou desde o início baixar o IRC, uma pretensão da troika e da Alemanha). O lado social-democrata governo foi manso durante estes três anos de ajustamento, fez mais do que lhe era exigido, impôs uma dor social muito maior aos portugueses do que seria necessário e nunca levantou a voz contra nada. Agora, aparece todo lampeiro e corajoso a atirar-se aos gregos, sabendo que tem as costas quentes por causa da Alemanha. E nem se recorda que há uma semana ou pouco mais o FMI, responsáveis da Comissão Europeia e da própria Alemanha diziam publicamente que o ímpeto reformista tinha caído em Portugal. Mas com o caso grego tudo foi passado para trás e Portugal é agora um exemplo. Como retribuição, o governo português morde as canelas aos calões dos gregos.

Volto ao princípio, dr. Marques Guedes. A si não lhe passei nenhuma procuração para dizer que não me senti humilhado nestes três anos, em que o Governo português nem uma única vez levantou a voz para dizer não à troika e defender os interesses dos portugueses. Senti-me humilhado como aceitou ordens de funcionários internacionais de segunda categoria. Senti-me humilhado por termos tido de pedir ajuda internacional. E sinto-me agora humilhado e envergonhado com este discurso governamental anti-grego. Miséria de política e de políticos que nos governam!

Mas eu, como digo, não interesso nada para o caso. Infelizmente para si, o Dr. Portas também não se revê nas suas declarações. Mas tudo vai acabar em bem, seguramente. «Real politik», como sabe. E esses gregos que se ponham a pau se não pedimos para sermos nós a liderar o programa de ajustamento da Grécia! Temos experiência que baste e entusiasmo de sobra! Ouviu, Dr. Schauble?

 

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 Amorim Lopes

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