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DÁDIVAS

E agora é o acaso quem me guia. Sem esperança, sem um fim, sem uma fé, Sou tudo: mas não sou o que seria Se o mundo fosse bom — como não é!

E agora é o acaso quem me guia. Sem esperança, sem um fim, sem uma fé, Sou tudo: mas não sou o que seria Se o mundo fosse bom — como não é!

DÁDIVAS

24
Dez14

NATAL FELIZ

59abc59

Estamos no Natal…

O Mundo em que vivemos é muito injusto. Vivemos de mãos dadas com a fome, com a pobreza, com a injustiça, com o oportunismo e com a ganância.

Bastava a nossa organização e lançar mão do supérfluo que “abraçamos” diariamente, para que o flagelo da fome tivesse uma “derrota” assinalável.

Bastava que a palavra perdão fosse usada com mais convicção e mais frequentemente, para alcançarmos um Mundo mais justo e as famílias, serem mais unidas e menos agressivas.

Para todos um Feliz Natal e um 2015 mais justo, “sorridente” …

Amorim Lopes

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 Comecei a vê-los assim que me aproximei do hospital. Eram umas dezenas: homens, mulheres, velhos, novos, alguns deficientes, todos encostados às paredes dos numerosos restaurantes que por ali havia. Esperavam os restos dos almoços, com disciplina e contenção. À distância, um carro da Polícia vigiava. Mas nada de sobressaltante acontecia. "Tudo calmo, por aqui", comunicava um dos agentes para a esquadra. O tempo era inclemente e a solidariedade parecia desempregada. Nas ruas, as pessoas não se cruzavam, trespassavam-se com a indiferença de quem apenas quer saber de si. Ia ver a minha mulher, que quebrara a perna esquerda em duas partes e os médicos preparavam-na para a engessar. Eu vira os ossos de perna dela expostos e ensanguentados e a imagem perturbara-me. Os nossos filhos iam vê-la, consoante a disponibilidade dos horários das escolas e os do hospital. O mais novo parecia que ronronava e estava constantemente a afagar-lhe o braço, com a cara encostava ao corpo dela. Contei-lhe das pessoas que aguardavam as sobras dos restaurantes, e de dois amigos nossos que tinham sido presos. Política, está bom de ver. O hospital, o de São Lázaro, estava repleto. Disse-me ela: "Há muito mais velhos do que novos. Os velhos caem em casa. Há alguns novos, mas a maioria é constituída por velhos que caíram em casa." Agora, caía uma chuva miúda e a cidade cheirava a peixe podre. Ouviu-se o silvo de uma ambulância e um grito longínquo. "Daqui a duas semanas, saio, mas vou ficar uns tempos largos com a perna cheia de gesso. E dá--me uma comichão enorme. Tens chegado cedo a casa?" Aproxima-se um médico. Não me liga nenhuma e faz perguntas do estado de saúde da minha mulher. Ela responde-lhe dificultosamente e estou à beira de intervir na conversa. A arrogância dos médicos é como se fora o seu estatuto social. Despeço-me dela e acaricio-lhe o belo rosto com ternura. "Já não sei dormir sem ti", digo. "Vem depressa." A rua é um bloco de gelo, e os eléctricos circulam vazios. As pessoas comem dos caixotes, depois de escolherem as peças mais apresentáveis. Um dos deles olha-me fixamente. Diz: "Nunca viu um homem comer?"

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